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Prémio Camões 2007, o mais importante galardão literário da língua portuguesa foi ontem
atribuído ao escritor português António Lobo Antunes.
O júri deste ano reuniu-se na
Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro e foi constituído por Francisco Noa (Moçambique), João Melo (Angola), Fernando J. B. Martinho (Portugal), Maria de Fátima Marinho (Portugal), Letícia Malard (Brasil) e Domício Proença Filho (Brasil).
Com a vitória de Lobo Antunes, sobe para 12 o total de ficcionistas e para nove o de autores portugueses vencedores do Prémiono, no valor de 100 mil euros. Em 18 anos, receberam o prémio nove autores portugueses, sete brasileiros, dois angolanos e um moçambicano.
Autor de uma extensa e premiada obra literária, o romancista
António Lobo Antunes era um dos nomes frequentemente equacionados para o galardão. Um dos escritores portugueses mais lidos, vendidos e traduzidos em todo o mundo e eterno “nobelizável”, António Lobo Antunes, de 64 anos, é médico psiquiatra de formação, actividade que exerceu no hospital Miguel Bombarda, em Lisboa, antes de se dedicar exclusivamente à escrita.
A experiência da sua passagem por Angola durante a Guerra Colonial, entre 1970 e 1973, inspirou muitos dos seus livros. 1979 é o ano que assinala o início oficial da sua carreira literária, com a publicação dos romances “Memória de Elefante” e “Os Cus de Judas”, ambos editados pela Vega.
Com 26 títulos publicados e traduzidos em 16 línguas, Lobo Antunes foi já distinguido com o Prémio Internacional União Latina (2003), Prémio Jerusalém (2004), Prémio Ibero-Americano de Letras José Donoso 2006 (pelo conjunto da obra), Prémio France Culture (1996 e 1997), Grande Prémio de Romance e Novela APE/IPLB (1985 e 1999) e o Prémio de Literatura Europeia do Estado Austríaco (2000), entre outros.
A escritora
Lygia Fagundes Telles, vencedora da edição 2005 do Prémio Camões, felicitou os organizadores pela escolha deste ano. “António Lobo Antunes é um grande escritor, autor de uma literatura da maior importância, completamente original”, afirmou a escritora brasileira à agência Lusa. Lygia Fagundes Telles qualificou de “óptima” a decisão do júri do Prémio Camões e felicitou Portugal pela escolha do escritor português. “Portugal está de parabéns. Estou muito contente com essa escolha”, disse.
A distinção de António Lobo Antunes merceu por parte de
Lídia Jorge o comentário de que “é merecida pela obra notável, pela grande persistência e originalidade”. A autora disse ainda que Lobo Antunes “é um dos escritores mais importantes da actualidade”, constituindo este Prémio “mais uma chamada de atenção, em termos internacionais” para a sua obra. “Sendo o Prémio Camões reputadíssimo em todas as frentes é seguramente mais uma referência para o reconhecimento internacional da sua obra”, sublinhou a escritora. Segundo a escritora, o prémio “irá certamente atrair leitores lusófonos, nomeadamente em África e no Brasil”.
Por seu lado, o presidente da Associação Portuguesa de Escritores (APE),
José Manuel Mendes, disse que o júri escolheu “um autor reconhecido pelos seus leitores”. Em nome da direcção APE, José Manuel Mendes, afirmou que esse reconhecimento “terá seguramente suscitado o interesse de um júri atento à realidade cultural dos países lusófonos”.
O escritor
Gonçalo M. Tavares elogiou a “intensidade emocional e literária” das crónicas de António Lobo Antunes. O autor de “Jerusalém”, que teve o primeiro contacto com a obra de Lobo Antunes em “Cus de Judas”, afirmou que encontra nas crónicas semanais do escritor uma “intensidade emocional muito forte e muito difícil de conseguir num pequeno espaço”. Gonçalo M. Tavares considera este prémio uma distinção para toda a obra de Lobo Antunes e para uma escrita “que exige muita atenção do leitor”.
Divulgação no BrasilA escolha pelo júri do Prémio Camões divulgará a obra de António Lobo Antunes no Brasil, afirmou o presidente do Real Gabinete de Leitura do Rio de Janeiro. António Gomes da Costa salientou que a “popularidade de Lobo Antunes no Brasil ainda não está à altura de sua categoria literária”. “A vitória gera um grande foco em cima da obra do escritor e contribuirá para a divulgação da literatura de Lobo Antunes que, pela forma inovadora de escrever, merece realce”, afirmou. Gomes da Costa avançou ainda que “há muito tempo o escritor português merecia ser premiado” pelos organizadores do Prémio Camões. Uma das mais famosas e antigas instituições do género no Brasil, o Real Gabinete Português de Leitura foi criado em Maio de 1837."
Fontes:
texto - O Primeiro de Janeiro -15-3-007
foto - Teia Portuguesa